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Conversas Chaladas – Encontro com a Escritora Hélia Correia

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             No passado dia 7 de março teve lugar mais uma “conversa chalada” na biblioteca da nossa escola, desta feita com a escritora Hélia Correia, a qual veio acompanhada do seu companheiro de longa data, o poeta e jornalista Jaime Rocha. A obra em causa foi o livro de poemas A Terceira Miséria (a miséria do pensamento no mundo ocidental) publicado pela editora Relógio D’Água, obra nascida da indignação e da adrenalina súbita, fruto da urgência de “uma força colectiva nova”. Todavia, a conversa abrangeu muitos outros assuntos e interesses da autora, permitindo a quem assistia entrever ao de leve o universo intelectual e valorativo de Hélia, como o facto de se considerar “pós-feminista”, dada a sua recusa em entender o mundo como uma mera divisão entre Homens e Mulheres, a certeza de que a intriga é aquilo que menos interesse lhe desperta numa obra, inversamente ao texto, ou ainda a existência simples de duas maneiras de encarar a língua – uma enquanto “criada ao serviço de um senhor”, entenda-se como mero instrumento de uma narrativa – outra enquanto “dona, objecto estético” em si mesmo.

Sim, foi essa
A primeira miséria, a deserção
Dos deuses. A segunda, a sua morte,
Já na morte de Pã anunciada
Pelo lamento dos bosques, o clamor
Lutuoso das ilhas do Egeu.
(p. 24)

A terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda. E, ao contrário
Do orgulhoso Péricles, se torna
Num entre os mais, num entre os que se entregam,
Nos que vão misturar-se como um líquido
Num líquido maior, perdida a forma,
Desfeita em pó a estátua.
(p. 29)

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