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Ana, as águas levam-te flores





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Ana. O teu sorriso. O teu olhar, Ana. Tu. Inteira.
Dia após dia, dos teus últimos connosco, a ansiedade por te ver e o medo. O corredor. O medo. A ansiedade. A tua vida aqui que findava e nós derrotados por não te podermos arrancar, Ana, do quarto confortável com vista para o mar.
Ana. O teu sorriso.
Dia após dia, cada dia nosso era a pensar-te e a querer-te tanto bem.
Se a saúde da minha filha dependesse dos amigos que tem, ela estaria curada, dizia a tua mãe, para quem eras a menina indefesa e presa nas malhas que a vida tece. E nós tão derrotados por o nosso tamanho Amor ser tão pequeno para matar a morte que te espreitava tão de perto.
O corredor. A ansiedade. As palavras. Tu ali. No quarto com vista para o mar, donde se avistavam belos fins de tarde. E tu ali, Ana, no cadeirão. A receber-nos sempre. O teu Amor. O teu gesto delicado. Eras tu, ali, inteira, apesar da dor. Apesar do tempo que te fugia e te levava de nós, para longe. Nós ali contigo, todos, a querer parar o tempo, a querer-te de volta e ao teu passo miudinho inconfundível pelas ruas da tua vida connosco. Tão breve.
Mas os dias passavam. Tão depressa, Ana. E tu partias todos os dias um pouco mais. E tornávamos a visitar-te, e tu estavas sempre cada vez um pouco menos, aos poucos ias desaparecendo do teu olhar, restando de ti o teu corpo tão cansado. Era inadiável o chamamento que te faziam, cada vez mais urgente. E nós no corredor. Com o medo. E a dor. A de te saber a sofrer e a de te saber tão breve aqui.
Veio esse sono profundo, esse em que vimos o teu corpo tão frágil a ceder aos poucos ao sofrimento de tanto tempo. Onde estavas, Ana? Onde, quem tu eras e que nos sorria sempre do fundo de uns olhos já tão esgotados?
E nós, Ana, ali, todos, tão impotentes a deixarmos-te ir, para sempre de nós, aqui.
Hoje, Ana, já não há o teu corpo.
O corredor está frio. No teu quarto hoje já não esteve ninguém a ver o entardecer contigo.
Hoje só já existe quem tu és.
Acreditas mesmo que eu ainda vou ficar bem? Acreditas mesmo?
Sim, acreditamos que estejas bem. E para celebrarmos a grandeza de quem foste e de quem és, enviámos flores pelas águas.
Para ti, querida Ana.
Com Amor.
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2 comentários:

  1. Ana

    Olá! Aninhas soube hoje que partiste! Minha querida colega e amiga, jamais esquecerei o teu sorriso, a tua bondade e o brilho do teu olhar. Professora Antónia o seu texto fez-me chorar, conheceu a Aninhas que eu conheci, tínhamos 18 anos, tantos sonhos e os dela acabaram tão cedo! Peço a Deus que a tenha no céu bem juntinho dele, porque sei que a tem.

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