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Terra – a nossa nave-prisão

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Embora não o sintamos, rodopiamos pelo espaço a uma velocidade incrível, em torno de um eixo, em torno do Sol, em torno da galáxia, com a galáxia...

Dentro dos limites do nosso horizonte vemos uma ínfima parte da superfície do nosso planeta que é uma espécie de prisão domiciliária que partilhamos com um sem número de outros “pedaços de matéria viva” de dimensão e complexidade variáveis. Com cada um destes “pedaços de matéria viva” partilhamos uma estrutura e uma constituição que herdámos de um ancestral comum e que, como os andamentos de uma sinfonia, são retomados e se repetem num sem número de variações.

As forças que nos prendem na Terra são diversas e, apesar de tudo, estamos todos tão intimamente ligados ao nosso ambiente que só conseguimos sobreviver quando levamos um pouco dele connosco, seja numa cápsula espacial, num fato de mergulho ou mesmo dentro da roupa quente que usamos quando está frio. Estas forças resultam de estarmos vivos e de a vida, tal como a conhecemos, ser causa mas também consequência de um sistema cuja organização se manifesta do nível molecular ao planetário. São laços fortes mas flexíveis, estritos, apesar de nem sempre serem visíveis, o que nos liga a todos os outros “passageiros deste barco”.

Os nossos companheiros de viagem têm formas, cores, texturas, cheiros, sabores e muitas outras características diferentes.

Somos capazes de identificar um número razoável de animais e plantas diferentes e, com um pouco mais de atenção e uma busca feita com “redes de malhas diferentes”, aperceber-nos-emos de outros grandes tipos de seres vivos e de sucessivos mundos cuja riqueza de outra forma permaneceria oculta.

Dispondo de meios de observação que amplifiquem os nossos sentidos e utilizando-os de forma adequada, podemos, por exemplo, observar o microcosmos que se esconde numa gota de água, mesmo se esta tiver uma aparência límpida, ou perceber diferenças de natureza química insuspeitáveis através de uma observação meramente visual, por mais cuidada e bem apoiada que seja.

Apesar de termos a percepção de que a diversidade dos seres vivos ultrapassa em muito a visão limitada que dela temos, esta não é mais que o reflexo de diferentes formas de resolver os mesmos problemas/necessidades básicas da sobrevivência.

Que problemas são estes? Que soluções são eficazes para cada ser vivo, “hoje e aqui”? Que limitações implicam? Qual o grau de liberdade que conferem? Que preço é preciso pagar para sobreviver? São questões a que temos procurado responder, mas cuja resposta plena dificilmente conseguimos abarcar.

Sabemos que certos organismos são mais adaptados a certos meios. Relacionamos facilmente cactos com desertos ou peixes com água e todos temos a noção de que a nossa saúde depende também do modo como comemos, fazemos exercício, mantemos um certo grau de higiene ou vivemos num ambiente mais saudável.

As condições ambientais vão selectivamente concedendo, em cada geração, uma espécie de sucessivos “vistos no passaporte para a sobrevivência” aos indivíduos que apresentam as características mais adequadas num dado momento. As espécies vão-se assim adaptando enquanto puderem oferecer ao ambiente uma diversidade de “padrões” que este possa seleccionar. Essa adaptação constitui um factor de dependência das condições que a determinaram. Porém, por vezes, o ambiente muda e torna-se de tal modo adverso que é impossível a sobrevivência. Durante os quase 4000 milhões de anos de história da vida na Terra, mudanças ambientais, graduais ou bruscas, seleccionaram certos indivíduos que viveram mais tempo e se reproduziram mais. A acumulação das características dos mais aptos em cada geração mudou as espécies e, sempre que essas mudanças se revelaram impossíveis por não restarem indivíduos com as características adequadas, condenaram-nas à extinção.

É fácil reconhecer grandes diferenças de forma e tamanho dos seres vivos. Podemos pensar em plantas, na sua maioria fixas a um substrato, e animais que muito imediatamente associamos a um modo de vida livre. Mas, geralmente, esquecemos as plantas que vivem “empoleiradas” nas árvores (como certas orquídeas tropicais) ou animais que vivem fixos (como as anémonas do mar ou os corais). Conseguimos visualizar algumas das soluções encontradas para a locomoção dos animais (patas, asas, movimentos de reptação) mas mais dificilmente nos lembramos dos cílios que movem muitos organismos aquáticos, nem sempre unicelulares, ou das diversas formas e tamanhos das sementes que podem ser também uma forma que as plantas têm de poder viajar. Sabemos a diferença de tamanho entre um elefante e uma formiga e talvez consigamos imaginar o tamanho de um dinossáurio que deixou pegadas de 90cm de diâmetro mas escapam-nos animais como os pequenos rotíferos, que só são visíveis ao microscópio, e geralmente pouco ligamos às dimensões das folhas, que podem ser tão pequenas que os nossos olhos não as distinguem ou tão grandes que podem ser usadas como guarda-chuva. Conhecemos a diferença de sabor entre um limão e um pêssego e, mesmo de olhos fechados, é fácil distinguir entre um feijão e um bago de arroz, mas que dizer de todas as formas cores, perfumes, sabores, sons e dos seus significados para outras espécies ou mesmo para outros indivíduos da nossa espécie?

Sabemos que todos os seres vivos são diferentes mesmo se essas diferenças não são muito evidentes aos nossos olhos, mas que dizer da “qualidade” única e comum a todos, a vida? Definimo-la geralmente contornando a questão. Falamos de propriedades, de capacidades, de estrutura, de compostos característicos dos seres vivos. Falamos da “química orgânica que é a química do carbono e da bioquímica que é a química dos compostos orgânicos que mexem” (Mike Adams). Mas mesmo a este nível que nos une muito mais do que nos separa, temos dificuldade em interiorizar quanto pertencemos ao mundo mais do que o mundo nos pertence.

A nossa espécie parece acreditar que a consciência de que se orgulha e que julga única lhe confere o direito de exploração, quando de facto deveria perceber que, a sermos realmente (os) únicos, a responsabilidade e a humildade ante o mundo a que pertencemos são nitidamente acrescidos. Uma arrogância que, transposta para a religião, muitas religiões, passou a ser sancionada por dogmas e estes, discretamente integrados nas diversas culturas das quais constituem uma matriz não visível mas presente, levou a que a exploração desenfreada e irracional de recursos fosse sancionada como algo de indispensável e se tornasse impensável não o fazer.

Cabe aos que têm consciência do que se está a passar, as elites que, quer queiramos quer não começam a sê-lo ao frequentar o ensino secundário, ser capazes de, desapaixonadamente, transmitir a razão (as razões) de por quê e como agir, numa aposta clara na única mudança segura – a mudança de mentalidade, de todas as mentalidades.

Se não o fizermos, nada do que sabemos terá qualquer utilidade.

 

Testo da Professora Guadalupe Jácome

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