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Crónica da Valéria - julho de 2017


“Que horas são ? Hmm, pela luz lá fora parecem ser umas… 10 horas da manhã?  

                                   …Ups.” 

Eu, todas as manhãs a ver “12h20” no relógio do meu telemóvel. Sinceramente, acho que mereço dormir até tarde durante estas férias. Só de lembrar os nove meses de escola a acordar todos os dias às 7h00 e todos os compromissos de manhã(...).  Por outro lado, cada dia que acordo tarde, parece que levo com mais um peso de 5 kg nos meus ombros. 5 kg de arrependimento por saber que desperdicei mais uma manhã, mais umas potenciais horas que podia ter estado a usar para ser produtiva, de uma maneira ou de outra. Espera, acabei mesmo de dizer produtiva? Ah ah desculpem, quase me esqueci de que estes três meses de férias são apenas mais uns quatro meses de desculpa permanente para passar os dias a não fazer nada, descansar, jogar jogos, fazer nada, descansar, jogar jogos, repetir. “Já vou mãe…..” é uma frase indispensável ao longo destes meses de tédio. “Lavar os pratos? Já vou mãe….. Deitar fora o lixo? Já vou mãe…..”, rosno quase desagradavelmente enquanto empoleiro os pés na parede adjacente ao sofá, no qual me espalhei de cabeça a balançar para baixo com o comando da TV na mão. 
Pessoalmente, enquadro-me na estatística dos 10% de pessoas que não foram trabalhar durante o verão. Não por não ter vontade mas,  por mais incrível que pareça, por obra de certas inconveniências e algumas saídas para fora do país que me impedem de o fazer. Mas também me enquadro nos 5% de pessoas que não foram a qualquer festival, festa, ou até que vão constantemente sair com os amigos para cá ou para lá.  Opá .. . demasiado trabalho; para além de não me apetecer sair à rua e derreter debaixo destes 40 graus. Resumidamente, faço parte daquela pequena percentagem de estudantes que simplesmente usam as férias de verão para ligar o botão “Off” como quem diz “deixem-me em paz”. E porquê? Sinto que me esgoto durante a escola, mais do que deveria. Todo o stress e preocupações constantes deram-me cabo do sistema nervoso, ao ponto de precisar de, pelo menos, dois meses para me pôr de pé e a funcionar outra vez.  
Contudo, tal como qualquer aluno que está agora a ler isto, partilho com todos vós o mesmo sentimento anual. Aquele sentimento que nos atormenta todos os anos aproximadamente à mesma altura do Verão. Sim, provavelmente já sabem do que estou a falar. Todo o estudante que é estudante já experienciou aquele sentimento de “opá, tenho saudades da escola. Ou dos meus amigos, e da comida do bar que as senhoras simpáticas preparam com tanta pressa para nós durante aqueles intervalos irritantes de cinco minutos…” 
E, o pior de tudo, é que estas típicas frases permanecem na minha cabeça até meados de Outono. Aí, por volta de Outubro/Novembro, quando me volto a lembrar deste tal pensamento, quase me apetece dar uma chapada a mim própria. É sempre assim: no verão quero a escola mas,  quando na escola, só desejo o verão de volta. Este é, na sua forma mais pura, o mais simples ciclo vicioso e talvez um daqueles ciclos que experienciamos primeiro na nossa vida. Na verdade, não tenho saudades da escola, no seu sentido mais figurativo. Tenho saudades da escola no seu sentido literal, físico. Saudades do pátio, do portão de entrada, das paredes raspadas, da máquina de café, de alguns professores  e dos meus colegas. As saídas para almoçar fora e,  até,  das aulas de Educação Física. Já os testes, trabalhos, manuais e projetos ?  Isso … já é outra história. 
Agora, num ponto pessoalmente sensível e… bem meu, sinto, como autora destas crónicas e outras coisas que escrevo para mim, que o verão desgasta a minha inspiração e o charme que tenho para com o papel e a caneta com que escrevo. Faltam-me ideias, muitas vezes faltam-me palavras, ideias interessantes que despertem curiosidade no leitor, e, em geral, o jeito. Admito que a correria constante da escola ou  do trabalho, são essenciais na vida de um autor, por mais que custe a admitir. É nesta atividade frenética que encontramos polémica, conceitos que despertam ideias, sons, e sentimentos que depois traduzimos para um dialeto mais sensitivo e acessível aos olhos dos outros. Na ausência desta barulheira, perco lentamente a confiança no que escrevo. Será que os leitores gostam de ler sobre os dias vazios e lentos que vivo durante  três meses consecutivos?  Isto é, no fundo, quase como uma crise existencial. Não digo que não escreva para mim  mas,  com o aparecimento de uma audiência, eu, tal como qualquer outra pessoa que expõe as suas aptidões ao mundo exterior, sinto que tenho de manter os leitores interessados. Por isto, admiro atores do fundo do meu coração. Porque, essencialmente, a vida pode ser explicada através de uma simples analogia; analogia que eu não entendia até a experienciar na minha própria pele. 


 “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. “  (Charlie Chaplin)

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