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Encontro com a escultora Vera Gonçalves

A escultora Vera Gonçalves veio à nossa escola mostrar o seu trabalho perante um auditório cheio de alunos atentos e interessados, com muita vontade de a questionar sobre o seu trabalho. Trabalha na escultura desde os 22 anos. Começou a fazer esculturas aqui em Lagos, no início dos anos oitenta, com o escultor João Cutileiro, seu mestre. Filha de mãe pintora e pai arquitecto, cresceu num ambiente propício à imaginação e à criatividade. As razões que a levaram a escolher esta profissão prendem-se com um desejo seu de não querer patrão nem horários, optando assim por trabalhar quando quer, inclusive aos sábados e aos domingos.
As suas peças mostram figuras da História de Lagos e a sua obra de vulto na cidade é aquela que ficou conhecida pela “escultura das cadeiras”, uma obra de arte pública que lhe é cara, pois diz gostar de cidades com referências, com objectivos importantes, onde o urbanismo cria lugares de identificação imediata. Desse monumento das cadeiras, ficou orgulhosa com o resultado final por este já pertencer “a todos nós”, sobretudo num lugar onde havia bastantes acidentes, passando a ser um lugar com pouca ou nenhuma sinistralidade a registar. O objectivo foi, portanto, atingido. O motivo de serem cadeiras está, segundo a escultora, relacionado com a vontade deste objecto do quotidiano significar “o desejo de conversar, o diálogo, a conversa entre iguais”. E dado que tratava de um monumento celebrativo da revolução de Abril faria todo o sentido colocar um elemento que fosse representativo da troca de ideias, do debate e da partilha do poder. Do ponto de vista estético, as cadeiras são sete, porque naquele espaço tinham que ser sete, essencialmente por questões de proporcionalidade. O material utilizado foi o policarboneto, o mesmo que se usa nas janelas dos aviões, sendo a sua luminosidade nocturna exemplificativa desse milagre que foi a revolução de Abril.
Sobre as suas peças artísticas, a escultora gosta de referir que estas têm ritmo, som e musicalidade. Cada objecto tem uma determinada função e harmonia: “a estrada é para andar com a velocidade como deve ser, a praia tem de estar limpa, etc”.
Por fim, Vera Gonçalves disse ainda aos alunos que o seu trabalho é equivalente ao do feiticeiro, isto é, transformar aquilo que não vale nada em coisas valiosas. E referiu que a função dos artistas é estar permanentemente a criar um mundo harmonioso.
No final da sua exposição, a audiência, composta essencialmente, por alunos do ensino secundário e ensino profissional, fez bastantes perguntas à escultora, muitas delas relacionadas com a valorização social da profissão e do valor pecuniário das suas peças, o que levou a escultora a deixar cair a seguinte expressão: “ Muito gostam vocês de saber os preços!”.

Texto do professor Fernando Nunes

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