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A Chefia ou a Liderança, qual das duas prefere?

Desde o pai ou a mãe de família, passando pelo capataz da obra, pelo delegado de turma até ao director da repartição e presidente da empresa, a nossa sociedade vive e progride com base na estratificação hierárquica, a qual trata de distribuir o poder de acordo com a competência, a necessidade ou a conveniência. O poder é necessário para a gestão de qualquer estrutura complexa – uma casa familiar, uma sala de aula, um estabelecimento comercial, uma repartição pública. Por assim dizer, tudo deve emanar e retornar à entidade gestora, cabendo a esta assumir a carga mais pesada da fatia de poder: a da responsabilidade e da liderança. Todavia, a figura tutelar que devia ser inspiradora de acção criativa e de bem-estar entre a comunidade servente - os trabalhadores, os funcionários, os alunos, a prole – alcançado o poder, a miúde embrenha-se de corpo inteiro na titânica tarefa de o manter e de lhe intensificar o sabor. Nada mais desastroso. Assistimos por estas vias ao nascimento do chefe, do chefão, do patrão, do poder legitimado por nomeação, validado por uma qualquer entidade exterior ao núcleo ou à comunidade ou pela vontade do próprio. Eis que vemos nascer o ímpeto tirânico na política, o desmando na casa, a violação dos direitos laborais, enfim, o desconforto, a repulsa de tantos trabalhadores, desencantados por falta de visão e de coragem do gestor.

Ora há uma enorme diferença entre ser chefe e ser líder. Nas palavras de Francesco Alberoni, sociólogo e jornalista de renome, «O primeiro tem o poder que lhe foi outorgado por alguém, o segundo vê esse poder naturalmente reconhecido e aceite por todos». E isto significa tão simplesmente que todos nós podemos almejar a chefia, enquanto apenas um punhado de eleitos exercerá alguma vez a liderança. O líder é naturalmente aquele que tem a confiança e o respeito de todos, porque a eles lhes concede esses mesmos valores; o líder não tem medo de decidir e de ser criativo, fazendo-se para isso rodear de executores competentes, com os quais discute, progride, cresce; o líder é amado e admirado por todos, porque faz do trabalho em equipa um verdadeiro projecto em comum, do qual todos se orgulham e ao qual todos querem pertencer. Um chefe frequentemente impõe-se pela força da ameaça e da ordem, ao passo que ao líder basta ser seguido, personificando em si os valores da comunidade que serve. Por estes e muitos outros motivos, chefes há muitos, mas os líderes são escassos e altamente resilientes nos corações das pessoas. José Mourinho, Mahatma Ghandi, Martin Luther King, João Paulo II, Nelson Mandela, Dalai Lama, todos estes nomes inspiraram e continuam a inspirar pessoas em todo o mundo.

Regressando ao pequeno espaço que habitamos todos os dias na nossa escola, a sala de aula, tire-se a lição sobre aquilo que perigosamente começa escassear e que urge recuperar com coragem e paciência: respeito pela figura tutelar do professor e pelo seu estatuto de conhecimento, brio por parte dos alunos e admiração pelo saber adquirido e pela capacidade de trabalho. Não nos enganemos quanto à importância destes valores, pois eles estão na base da verdadeira liderança.



Carla Escarduça

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[1] Popular sociólogo italiano, Francesco Alberoni nasceu em 1929, em Piacenza, Itália. Licenciado em medicina pela Universidade de Pavia, estudou psicanálise e estatística, tendo desenvolvido investigação no campo das probabilidades. Tornou-se professor de sociologia em 1964, primeiramente em Milão, a que se seguiram outras universidades. Foi como estudioso do Amor e da Amizade que Alberoni encontrou popularidade junto do grande público com obras como Enamoramento e Amor (1979). Escreve todas as terças-feiras no jornal i.

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