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Sentires

É a manhã da tarde da saída… vou ajudar-te a embalar mais um ano da tua vida. Como farás dentro em breve, quando, sob o meu olhar disperso, encherás as malas vazias com os pequenos nadas que reuni aqui, a Sul.
Está tudo cheio da tua vida e ainda a há de sobra… enfiamo-la, então, nos sacos do lixo; agora já têm utilidade, eles que sobravam no soalho adormecido.
Vêm pessoas dizer adeus.
Entristeces lentamente, despedes-te e fechas a porta.

Encheste dois carros…vais adiante, enquanto te sigo na escuridão. É noite alta e vem visitar-me aquela velha angústia. É também uma forma de me manter alerta, enquanto conduzo ( a tua vida oitenta quilómetros adiante).
Para o ano há mais… por agora há que esquecer a bagageira do carro, não lembrar a infindável lista de espera onde coze a vida, em banho-maria.

Choro no silêncio que se me criou à margem dos sons nocturnos. Não sei se, ao contrário de ti, conseguirei levar por diante a palavra da língua.

Andarilhos sem eira nem beira, seres de nenhures, assim somos.
Professores.


Texto da Prof.ª Antónia Mancha

5 comentários:

  1. Tambonito!!! Ê cá gostê munte! Nã percêbe é perque na escreve mais.Quase chorê! Fora de parvoeras, gostei mesmo A. de la Manche

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  2. Merci, ma chérie. À bientôt.

    Antoinette de la Mancha

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  3. Querida De La Manche:

    Li agora mesmo. Parece um texto sobre a dor do fim amoroso. E de algum modo é. Mas não é.

    Antecipas os sentimentos de todos os professores que daqui a alguns meses farão as suas malas e mais uma vez partirão. Anos da nossa vida andarilhos sem raízes. Sempre a chegar e a partir. Com os sonhos nas malas que desta vez nem sabemos para onde seguirão.
    A profunda decepção de sentirmos que jogaram tão facilmente fora o nosso saber, as nossas múltiplas capacidades e o nosso sonho. Tudo fora em nome de quê? E ainda há quem se mova por uma suposta carreira acreditando que um dia, tal como D. Sebastião, tudo voltará a ser como dantes. Sinto-me o velho do Restelo. Não meus queridos e amados colegas, nada voltará a ser como dantes. Quanto mais depressa o compreendermos mais coragem teremos para procurarmos um novo rumo.
    Do que conheço de ti, Antónia, com toda a tua garra, saber e humor, só posso lamentar que este sistema se permita desperdiçar tanto valor. Mas, todos estamos a ser desperdiçados.
    E sabes que mais?
    São os professores mais esforçados, todos os que se dão a si próprios, os que se queixam mas continuam a cumprir ordens insensatas que nos desviam do essencial, são estes capitães que seguram com o seu tremendo esforço um navio cheio de buracos, um navio podre.

    Um enorme abraço
    Ana Paula

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  4. Um abraço grande.
    Obrigada pela clareza. Pelo texto. Pelos elogios.

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