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Ao de leve

É NOITE NA PRAIATenho uma nebulosa lembrança do que fizemos nessa noite.
Uma leve sombra paira sobre a Lua, obscurecendo a sua iluminada imensidão. Luz essa que nem se compara à tua, claro.
O frio enregela os nossos ossos, fazendo-nos tremelicar e arrepiar. O caminho estava com um tom de escuro claro aos olhos dos outros, mas não aos meus, pois tudo se enchia de uma radiação intensa, inigualável. Ao nosso lado, o oceano. O leve rosnar cintilante azul das ondas soava, induzindo um transe diferente, calmo, agitado, impossível. A noite já ia bem avançada, ainda nem perto do dia. Não fosse o acaso de nos termos conhecido por amizades comuns e termos dado cara a cara sem olhar um para o outro, nunca te teria encontrado. De outra maneira seria impossível, pois de tão longe vieste, seriam hipóteses mínimas.
Deste-me razão, mentira, felicidade, tristeza, conselhos e histórias nas curtas longas horas que estivemos juntos. Partilhámos os ais e uis da vida, as tragédias, os romances e a música que deveria ser intitulada "Música da Nossa Existência". Expus os meus fardos, a minha vida dupla e tu os teus. Perguntaste-me como era possível ter a tímida pouca-vergonha de fazer o que faço, e respondi-te sinceramente.
Marquei-te.
Desde aí, idolatraste-me: por ter passado o que passei, por passar o que passo e por ir passar o que passarei.
Marcaste-me.
Admirei a tua coragem por me dizeres o que disseste, por admitires o que nunca deverias, na tua perfeita sanidade mental, ter admitido. Andámos sem rumo, fomos até ao infinito. E voltámos. Acabámos por despertar da ilusão quando finalmente ainda só tinha amanhecido.
Disseste que nunca te esqueceria.
Não o fiz.
Fizeste-me descobrir a minha verdadeira essência, a minha natureza, o meu núcleo.
Beijaste-me.
Afinal, é mais que uma nebulosa lembrança.

Texto de Dexter Germanotta Allen (aluno da Gil Eanes)

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