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Crónicas da Valéria - Março 2018


Um quarto de 2018. Já passou um quarto do ano!? É certamente um pouco bizarro quando se põe isto assim. Ou tenho uma noção muito má do tempo, ou então este passa ou demasiado rápido, ou demasiado devagar. Memórias de 2009 parecem memórias de 2017, e outras de 2016 parecem de 2005… está tudo trocado. Não sei se é apenas o meu cérebro e capacidade de memória que são, simplesmente, demasiado seletivas com as coisas das quais se querem lembrar ou esquecer mas, no meio disto tudo, perco-me no tempo do presente ao tentar organizar acontecimentos passados dentro da minha cabeça. Lembro-me daquela vez quando fui andar de barco e ver golfinhos com a minha família... foi em inícios de Setembro do ano passado, ou de há 2 anos? E aquela vez quando fizemos um jantar de turma à fogueira? Lembro-me perfeitamente, como se tivesse sido ontem. Mas na verdade, isso já aconteceu, mais ou menos, há… 4 anos!? É estranho. O tempo passa mesmo a correr. Lembro-me também de ouvir os meus pais, e pessoas mais idosas, sempre a dizer o mesmo, e eu nunca concordava com eles na altura. Para mim os dias, especialmente os passados na escola, passavam quase a rastejar. Os ponteiros do relógio quase que andavam para trás, e sempre que fechava os olhos para ver se fazia o tempo passar mais rapidamente acabava por abri-los literalmente 1 minuto depois, na esperança de ter “gasto” 20 minutos.
Parte disto tudo é verdade, mas não totalmente. Por exemplo, o dia passa muito devagar quando estamos, por exemplo, a trabalhar, num dia onde a clientela é pouca e a proatividade é, consequentemente, muito reduzida. Contudo, passa quase que num ápice quando temos de entregar um trabalho exatamente à meia noite, ou até quando estamos na companhia de pessoas, para estar com as quais um dia só não é suficiente. À exceção de alguns casos, concordo com essa expressão popular... pelo simples facto de que comecei a aperceber-me disso, na primeira pessoa, através de experiências concretas e reais. No outro dia, enquanto pesquisava as minhas universidades preferidas e fazia uma lista complexa das minhas preferências, ordenadas por ordem crescente, parei por um segundo. Pareceu quase surreal. Tenho agora 16 anos, quase 17. Ainda sou jovem, mas por outro lado quase adulta, no sentido “legal” da palavra. Como assim, já estou a começar o meu processo de candidatura!? Sou demasiado nova para isto, penso eu. Claro que toda esta situação é normal, sendo que para todos os jovens da minha idade (ou aproximadamente da minha idade, pelo menos) esta etapa nova da vida começa a formular-se neste preciso momento. Escolher uma área já desde tão cedo, quando ainda mal sabemos o que queremos fazer da nossa vida, e saber que teremos de a percorrer ao longo da nossa vida no futuro (ou pelo menos essa será a nossa opção inicial, um plano A); escolher uma universidade, muitas vezes longe de casa e de todos com quem nos relacionamos no preciso momento, tratar de um monte de papelada, investir dinheiro, arranjar trabalho, tirar carta, conseguir boas notas... etc, o processo parece quase infindável. Depois, pouco antes de partirmos para essa fase adulta da nossa vida (excluindo aqueles que decidem não prosseguir com os estudos superiores) somos confrontados com o facto de que, apesar de muitos dizerem que não, estaremos sozinhos durante algum tempo. Alguns mais que outros. É claro que temos sempre alguém com quem conversar, nem que seja apenas uma pessoa com a qual podemos ligar com apenas um clique no teclado do nosso smartphone. Mas, no sentido prático, os primeiros tempos serão sempre difíceis. Conheço pessoas que não sabem pôr uma máquina de lavar a roupa a trabalhar, ou que se alimentam à base de massa e arroz porque não têm jeito para lidar com carne e o próprio forno. “Mãe, como é que pago o IRS?” “Mãe, o que é uma conta a prazo?” “Mãe, acho que parti o micro-ondas…” “Ok mãe, prometo que é a última vez que te ligo hoje, mas por acaso não sabes se deixei aquela blusa azul aí em casa quando lá fui na semana passada?”
É cómico, não é? Podem dizer que não, mas estamos, até aqui, a viver com alguém conhecido (família, neste caso concreto) e temos, de certa forma, a nossa vida um pouco facilitada. Digam lá que não é bom chegarem a casa depois de um dia na escola e terem comida feita, ainda quente, em cima do fogão? Ou por vezes a roupa arrumada e a cama feita? É, sem dúvida alguma. Acho que nos habituamos a algo e quando esse algo desaparece sentimo-nos um pouco perdidos, abandonados até. Uns lidam com isso melhor do que outros, naturalmente.
No final de contas, esses dias aproximam-se cada vez mais rapidamente, por vezes até sinto que não os consigo acompanhar e fazer tudo o que há a fazer antes de chegar o “grande dia”. Sinto-me ansiosa, mas no bom sentido. Aguardo impacientemente pelo dia em que vou poder testar-me como um ser humano funcional por si só. Espero que corra tudo bem, claro. É um pouco hilariante dizer isto, mas espero pelos dias em que serei eu a fazer as minhas compras, a arrumar o meu pequeno quarto alugado, a ir buscar o meu correio, sair com os amigos de vez em quando para tomar café, apanhando-os à porta de casa no meu carrinho, humilde mas bom o suficiente para mim. Sei também que não será sempre fácil, como quando precisarei de ligar aos meus pais para saber como pago as minhas contas e me inscrevo para consultas e reuniões. Mas tudo isso vem com o tempo, muitas vezes sem nós sequer o percebermos… é um processo natural, mas o “ponto de viragem”, ou seja, os primeiros tempos, depois de mudarmos a nossa rotina, serão sempre empolgantes. Sempre gostei de ver e descobrir coisas novas, e sentir-me capaz de as fazer bem. Por agora, fico-me por esperar e aprender aos poucos o básico do que virá num futuro próximo.
Talvez seja só eu, mas sinto que preciso desta mudança, especialmente para me conhecer a mim própria… é basicamente um exercício de autoanálise, não é verdade? Acho que todos nós gostamos de perceber como funcionamos, como se fossemos um “sistema” complicado composto de emoções, ideias, experiências e memórias. É sempre bom entendermos como “operamos”, sendo que ter auto-perceção é sempre um passo em direção a uma vivência saudável, tanto psicologicamente como também num plano físico, sendo que um afeta outro e vice-versa. Esta fase é uma fase onde nos começamos a conhecer, olhando à nossa volta e tirando conclusões sobre quem somos. É nesta fase que iniciamos o processo de construção do nosso caráter, e da nossa forma de ser (excluindo aqueles traços com os quais já nascemos), e isso é realmente aliciante.
Quem sou eu afinal?

Texto de Valéria Tabacaru – 11ºC
Coordenação e revisão de texto – prof. Fernando Ildefonso

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