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Cidade Azul

Lagos2 Lagos1

São oito da manhã e o Sol brilha calmamente, iluminando a avenida que outrora fora mar. As gaivotas voam em torno dos candeeiros, alguns de ferro antigo, com o seu vidro a proteger a pequena lâmpada que, tantas vezes, abre luz no passeio daqueles que preferem a escuridão. Os bancos ainda se encontram vazios, mas à medida que me encaminho para o Forte, vou descobrindo os mais experientes da cidade, contemplando o mar à sua frente, ou as típicas leituras matinais. O azul constante que me vai acompanhando, ao longo deste pequeno percurso, não passa despercebido, e mesmo nos dias mais cinzentos, ele consegue provocar um contraste incrível, devido a toda a sua opulência. Cheguei ao Forte. Rodeado do infinito, constantemente agredido por ondas imensas nos dias de temporal ou mesmo nos normais, apresenta-nos uma pequena praia, tão dócil, tão acolhedora, envolta em rochedos e grutas, um pequeno mistério que muitos pensam conhecer.
Após admirar aquele refúgio, levanto-me e rumo ao centro principal da cidade. Passando o Castelo e depois de andar um bom bocado, paro, limitando-me a sentir o aroma que conheço naquela rua desde sempre, uma rua escura, com uma calçada fria e negra, mas cujo cheiro me relembra os contos de fadas. O pão quente, que sai a partir das sete da manhã, os bolos frescos que aguçam a gula de todas as idades... mas o que me leva ao extremo é, sem dúvida, o cheiro daqueles “croissants” que, constantemente, entram e saem dos enormes fornos que existem no interior de um pequeno edifício, o único que, no meu ponto de vista, ilumina o sombrio daquela rua.
Após acalmar a minha gula, sigo mais um caminho e, passando novamente o centro, decorado com a sua calçada branca e azul, estou de regresso à avenida. O Sol já paira alto, assim como os bancos já se preencheram. As pessoas iniciam o seu sábado com uma corrida, ou um simples passeio na tão famosa “marina”. Agora, em vez de ir pelo Forte, ando um pouco para trás, seguindo em direção a uma ponte . Poderia ir à Ponta da Piedade ou a todo o património que esta maravilhosa cidade possui, mas hoje vou de encontro ao azul. Após a passar a ponte, encontro-me nas docas onde se vende o marisco fresco, trazido pelos velhos pescadores durante a madrugada. O cheiro é agoniante, mas também, são só uns metros.
Ao longe, oiço um ruído forte, sendo possível sentir a terra tremer. Cheguei à estação de comboios. Infelizmente, a estação original encontra-se fechada, mais um traço tradicional desta cidade, perdido... mas hoje não quero pensar nos pontos negativos e, portanto, continuo o meu caminho. Sigo ao lado da linha férrea e avisto as famosas dunas da Meia Praia. Cerca de nove e meia da manhã e já os surfistas ocupam os lugares de estacionamento com as suas carrinhas. Vou em frente. Ao passar os restaurantes de praia, sinto que me apetece estar só comigo e com o azul que me acolhera nesta memorável manhã. Vou pela areia, em direção a um local sem nada (o areal extenso permite-me a oportunidade para tal). Cerca de um quilómetro e meio depois, creio que está na altura de parar. Pouso a mochila, os sapatos e, delicadamente, como se não existisse tempo, estendo-me num pedaço de areia onde, na sua imensidão, visto de longe, era como se eu fosse um grão. Fecho os olhos e inspiro o ar salgado, sentindo a humidade quente penetrar os tecidos que me cobrem. A leve brisa e o som do mar ao fundo relembram-me de que ainda pertenço a este mundo. Lentamente, abro os olhos, focando o azul que se eleva acima de tudo e se cruza com o marítimo que se estende ao longo de toda a sua imensidão. Dou por mim a observar o horizonte, por palavras minhas, o infinito, pois não sei onde nos levará.
São momentos assim, momentos azuis, que me permitem pensar: “que raridade, que felicidade, que prazer é viver em Lagos”, a cidade que, apesar de todas as críticas continua, na minha opinião, umas das detentoras da verdadeira beleza com um espécie de moldura azul que a completa desde que me recordo. É impossível ficar indiferente à imensidão de sentidos que este simples local “insensivelmente, irresistivelmente e fatalmente”, nos proporciona.

Texto de Catarina Oliveira - 11º B, nº 8

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