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Conversas chaladas

Quando se junta uma obra do escritor colombiano Gabriel Garcia Marques a um prato guloso de panquecas, seguido de uma boa chávena de chá é porque estamos em presença de uma sessão das Conversas Chaladas. O livro em causa foi O Aroma da Goiaba[1], o espaço a biblioteca da nossa escola e os dinamizadores os professores Vitor Álvaro e Célia José. A ideia é divagar em redor de uma obra previamente selecionada e lida pelos participantes e juntar o gosto pela literatura aos prazeres do palato, numa conversa amena e sem formalidades, numa quarta-feira à tarde.

A próxima obra será oportunamente divulgada neste jornal. O repasto, esse, também lá estará à espera, para quem se quiser despir da timidez que frequentemente não é alheia àqueles que fazem da leitura uma experiência solitária. Fica um excerto da obra.

-em geral, um escritor só escreve um único livro, embora esse livro apareça em muitos volumes com títulos diversos.

(...)

- Se cada escritor não faz mais do que escrever toda a vida um único livro, qual seria o teu?

(...)

- O livro da solidão. Repara bem, a personagem central de A Revoada é um homem que vive e morre na mais absoluta solidão. Também existe solidão na personagem de Ninguém Escreve ao Coronel. O coronel, com a sua mulher e o seu galo, esperando cada sexta-feira uma pensão que nunca chega. E existe no alcaide de Horas Más, que não consegue conquistar a confiança do povo e sente, à sua maneira, a solidão do poder.

-Como Aureliano Buendia e o Patriarca.

-Exatamente. A solidão é o tema de O outono do Patriarca e, obviamente, de Cem Anos de Solidão.

- Se a solidão é o tema de todos os teus livros, onde se deveria procurar a raiz deste sentimento dominante? Talvez na tua infância?

-Creio que é um problema de toda a gente. Cada um tem a sua maneira de o expressar. Muitos escritores, alguns sem se darem conta, não fazem outra coisa senão expressá-lo na sua obra. Eu entre eles.


[1] Numa série de entrevistas concedidas ao amigo Plínio Apuleyo Mendoza, jornalista e escritor como ele, García Márquez traça a trajetória que o levou de menino pobre de Aracataca à condição de um dos autores mais respeitados do século XX - estatuto que o Prémio Nobel de 1982 só viria ratificar. Publicado pela primeira vez em 1982, O Aroma da Goiaba permite-nos acompanhar o escritor enquanto este discorre, por exemplo, sobre a origem de Cem Anos de Solidão, as suas opções políticas ou a relação com as mulheres. Se formalmente O Aroma da Goiaba é uma longa conversa do escritor e jornalista Plínio Apuleyo Mendoza com o seu velho amigo Gabriel García Márquez– o que dá a este ocasião para desfiar com vivacidade as suas lembranças, juízos, opiniões e convicções – o seu conteúdo vai muito para além disso.

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