“Cultura geral não é comigo”

 

Nas voltas diárias pela imprensa nacional, eis que me deparo com um vídeo feito pela revista Sábado que me deixou perplexa! Não é que se lembraram que fazer breves entrevistas de rua com questões de cultura geral a jovens universitários portugueses? Num país à beira-morte, os jornalistas vão debruçar-se sobre minudências deste cariz em vez de estarem a produzir longas reportagens, extensos textos de opinião ou entrevistas de fundo aos eloquentes e imprescindíveis governantes deste nosso Portugal? Ou então a falar da Troika (seja lá isso o que for)? Pois não, decidiram antes partir em busca de jovens universitários e fazer-lhes inopinadas e inúteis perguntas só com o intuito de apelidarem de ignorante a nossa juventude.

Parece isto um qualquer programa do início do fim da carreira de Herman José, em que este  convidava  uma Linda Reis, para a humilhar perante o país. Aqui, vão-se buscar jovens que, para terem alcançado o Ensino Superior, foram formados nas nossas escolas de laxismo, onde não importa o conhecimento, bastando apenas o ‘saber mais ou menos’ e, perante o país, vão pôr a desnudo a sua falta de conhecimentos!

Quem escreveu Os Maias?

R: “Morreu há pouco tempo…”

Qual é o símbolo químico da água?

R: “PH… PH… PH0??”

Quem é Manoel de Oliveira?

R:“Não sei se é maestro, se é realizador de cinema… ah é maestro, é maestro!”

R: “Manoel de Oliveira é … um escritor”

R: “Faz filmes… como é que se chama o senhor que faz filmes?…”

R: “Um realizador… um cinematógrafo português”

Quem é o presidente dos Estados Unidos da América?

R: “É o Bush!”

Quem pintou a Mona Lisa?

R: “ Foi o Miguel Ângelo!”

R: “Picasso!”

R: “Leonardo Di Caprio”

Quem é o presidente da Comissão Europeia?

R: “É um ser qualquer, cujo nome eu desconheço bastante!”

R:´”É um francês, mas eu não sei o nome dele!”

Qual é a capital dos Estados Unidos?

R: “Estados Unidos?… Inglaterra"! Não, isso é …”

R: “Nova Iorque”

R: “Califórnia”

Quem era “O Padrinho”?

R: “Keanu Reaves, acho eu…”

R: “Tom Cruise”

R: “Vasco Santana!”

R:”Eu sei e eu sei, mas não me estou a lembrar!”

Quem pintou o teto da Capela Sistina?

R: “Não faço ideia… não ligo a essas coisas…”

R: “Miguel Arcanjo”

Como se chama o fundador da Microsoft?

R: “ …. Gill Bates”

Quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo?

R: “Não sou católica!”

R: “Não sei… não me dou muito bem com a literatura antiga, não…”

R: “Não faço ideia, não acredito em Deus, mas… Moisés!”

R: “O Evangelho Segundo Jesus Cristo?? Ninguém!!!”

R: “Os apóstolos, sei lá!”

R: “Não sei… alguém da igreja, mas não sei… já foi há muitos anos… não…”

Sábado: José Saramago?  R: ” Não! Esse não foi de certeza!”

Pobres jovens, tão ocupados andarão a marcar mais uma revolta de indignados, não que o sejam, mas há que ser solidário com os que são, tão azafamados, seguramente, com as suas sebentas com resumos ‘mais ou menos’, para ficarem a saber a matéria ‘mais ou menos’ e a nota da frequência ser ‘mais ou menos’.

Pobres jovens, tão cheios de ‘um saber pela rama’ a serem expostos desta forma… a minha solidariedade vai toda para vós, oh futuro do meu país! Oh geração do imediato, onde nada se enraíza, onde nada permanece. Lamento tão profundamente a vossa leveza e pergunto-me onde andam os pedagogos, os ministros da educação cá do sítio, onde, todos os responsáveis pelo estado de desgraça a que chegou o nosso ensino? Onde, que eu quero apontar-lhes uma pistola de lucidez e estilhaçar a demência das suas teorias pacóvias, que ensinam a imbecilidade, a desresponsabilização e a secundarização do conhecimento?

Que apareçam, para eu poder disparar! Preciso fazer o gosto ao dedo e matar! Matar esta estranha forma de ensinar, para que possa deste lodo, ressuscitar a professora que sou e de quem me desencontrei.

Aplaudo, sim, a revista ‘Sábado’! Aplaudo todas as formas que desmascarem o mostrengo que se esconde atrás da ideia criada de que no ensino tudo está mais ou menos…não fossem os professores…

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Texto da professora Antónia Mancha