Conversas Chaladas – Ao Sabor dos Dias de Pinheiral Bravo
Foi no passado dia 9 de novembro, perante um auditório repleto de professores e alunos, que a nossa querida colega Fátima Fidalgo desvendou um pouco das muitas histórias e memórias por detrás da obra recentemente publicada pela Chiado Editora, Ao Sabor dos Dias de Pinheiral Bravo.
“Uma história reconfortante com cheiro a resina e terra molhada”, o romance nasce da necessidade de Fátima deixar um testemunho da relação com a terra de Oleiros e suas gentes à sua filha Diana, a qual, segundo a própria autora “nunca teve experiências no meio rural, nomeadamente na Beira Baixa”. É precisamente a assumida importância e presença da memória desde a primeira à última página na narrativa que faz avultar cheiros, espaços e sabores, em detrimento da construção psicológica das personagens. Partindo desta premissa, Fátima Fidalgo conduziu o público numa viagem recheada de prazeres sensoriais, imagens da paisagem única de Oleiros, cheiros de plantas e pratos deliciosos da rica gastronomia local, o vento, o crepitar reconfortante do braseiro, as pedras rugosas do casario, etc..
Interrogada sobre as personagens da história, a autora confessou a preferência pela Júlia, inspirada numa tia sua, de nome Prazeres, de cujas laboriosas mãos viu saírem sumptuosos petiscos e delícias culinárias, que deixaram marca indelével na memória de Fátima. No entanto, não é através de Júlia mas antes da pequena Clara que o leitor inicia a viagem no Pinheiral Bravo.
Apesar de não assumir por inteiro o carácter autobiográfico da obra, Fátima confessou que todas as narrativas, de uma forma ou de outra, bebem das memórias do autor, mesmo que a invocação destas implique o transpor de uma barreira temporal vasta, o caso de Fátima, que reencontrou em abril passado a terra de Oleiros na companhia da filha, isto após um interregno de 25 anos.
Fique o leitor com um cheirinho da obra e, esperemos, com a vontade de a saborear por inteiro.
Luísa chega com os filhos a Pinheiral Bravo, terra onde vive a sua irmã. A pequena família, habituada a uma vida citadina, rapidamente adopta aquela vila e os seus costumes. As lides rurais começam a fazer parte do quotidiano de Luísa e "Enquanto a mãe sachava os regos de água, ajudada por um trabalhador pago à jorna, os irmãos observavam as calhandras que deslizavam na ribeira e os girinos que procuravam esconderijos sob as pedras, junto à margem. Quando voltavam para casa, levavam com eles o cheiro forte a hortelã selvagem, a poejos e a terra molhada. Agora, já todos os conheciam na vila e, mal chegavam ao cimo da quelha da ribeira, junto do forno comunitário, eram amiúde convidados para provar uma broa quente, recheada com toucinho, ou biscoitos de canela e azeite que fumegavam da última fornada."
Ao longo da narrativa, o leitor penetra no espaço e na vida dos pinheiral bravenses, revisitando o mundo rural e o tempo de infância, viagem oferecida sobretudo através do olhar e das sensações de Clara, filha mais nova de Luísa.
Insira o seu comentário